Mulheres tomam a frente do CTG Os Farrapos
Michele Ferreira
O clima ainda era de orgulho ontem à tarde, no galpão rústico de madeira do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Os Farrapos, no bairro Três Vendas, em Pelotas. Neste ano, em que a entidade completará duas décadas, só mulheres estarão no comando das atividades. Um feito inédito na história do CTG e ainda raro na área de abrangência da 26ª Região Tradicionalista (RT). Serão dois anos de trabalho e muitas atrações. É o que prometem as 15 integrantes da patronagem Princesa do Sul.Ao conversarem em roda com o Diário Popular, nem o cansaço da posse festiva na noite de sábado ou do mutirão de limpeza da manhã de domingo, diminuíam o entusiasmo. Pilchadas, nos trinques, elas receberam o DP e adiantaram como pretendem tanto aproximar os sócios do CTG quanto conquistar novos membros. “Queremos que as pessoas sintam-se parte da entidade”, adianta a patroa Neusa Soares, 47 anos. “Patroa é a esposa do patrão; não é o meu caso”, garante. “Eu sou patrão”, alerta, orgulhosa do cargo que encara como desafio. AS METASJunto as 14 mulheres - ou amigas, para entender o sentimento que move o grupo - cuidarão não só da sede, como da reforma nos banheiros que está no topo da lista de prioridades. Serão vários eventos ao longo destes dois anos; promovidos dentro e fora de Os Farrapos. E, claro, todos com o mesmo objetivo: preservar e difundir as tradições gaúchas - sejam voltadas à dança e à música, à gastronomia, à lida campeira ou até mesmo ao esporte. Invernadas artísticas, cavalgadas de integração entre os CTGs e torneios de bocha, claro, com a categoria feminino à disposição das interessadas. “Jogamos parelho”, enfatizam, ao relembrar títulos conquistados de segundo e terceiro lugares.Como elas viraram pioneirasTudo começou meio de brincadeira, em setembro de 2005. Foi a primeira vez que passaram a cogitar a idéia de disputar a patronagem. Mas a hipótese era levantada mais como descontração do que como possibilidade. Em novembro, no entanto, os homens permaneciam sem consenso quanto a quem indicariam à posição de patrão. O mais provável seria o presidente do Conselho de Vaqueanos precisar assumir a direção da entidade. No dia 20, quando encerraria o prazo de inscrições, elas tomaram a decisão: lançaram a chapa e aguardaram pelos concorrentes, que não existiram. “Fomos aclamadas”, descontrai a patroa. E os maridos? “Estão um pouco enciumados”, brinca Neusa, que se prepara para ver homens, mulheres e famílias inteiras entrarem para Os Farrapos e não conseguirem mais deixar o CTG. Há 12 anos, quando o primogênito Vinícius tinha seis, a secretária o inscreveu nas aulas de dança e viu o filho aprender mais do que passos. “Investimos na educação dele”, afirma. Foi então que Neusa se voltou ao tradicionalismo e hoje entra para a história como a primeira patroa da entidade.
Matéria Jornal Diário Popular-13/02/2006
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