08 de Março

fevereiro 06, 2006

Banco Pelotense

Banco Pelotense: 100 anos (parte dois)
No dia 19 de janeiro de 1906, era publicado o Projecto de Estatutos respectivo, em parte da primeira e da segunda páginas da edição do dia do Diário Popular, que seria aprovado com modificações mínimas e publicado, com seus dez capítulos e 71 artigos, já no dia 8 de fevereiro daquele mesmo ano, após a instalação do Banco Pelotense, portanto. Encontrei, também, outras chamadas publicadas, assinadas por Os incorporadores, anteriores à instalação, nos dias 25, 26, 27, 28, 30 e 31 de janeiro, bem como, nos dias 1º, 2, 3 e 4 de fevereiro. E, no dia 6 de fevereiro de 1906, uma terça-feira, o Diário trazia a Acta d’Assembléa Geral Constitutiva! Na véspera, fora constituído o Banco! Com trezentos contos de réis de capital, representando 10% do capital nominal de 3.000.000$000, subdividido em 15.000 ações de 200$000, em sessão presidida pelo coronel Urbano Martins Garcia, que teve como primeiro e segundo secretários, Patrício Simões Gaspar e Domingos Pinho, respectivamente, a mesma se deu na Praça do Commercio, que não tenho bem certeza de onde ficava, então, mas acho que no Clube Comercial, ali no prédio da esquina da Félix com a Neto, a deduzir pelo letreiro dourado com esses dizeres, descoberto na reforma da década de 50/60, iniciada por Francisco Corrêa de Azevedo e continuada por Mozart Victor Russomano, na Presidência do Clube. A Assembléia Geral Constitutiva, encerrada à 13h30min do dia 5 de fevereiro de 1906, contou com uma grande quantidade de nomes pelotenses ilustres, presentes e representados, incluídos os grandes nomes da indústria e do comércio locais. A Acta, lavrada na ocasião, foi registrada, na mesma data, no Cartório do Primeiro Notario e Official do Registro Geral, Luiz Carlos Massot, segundo “annotação à folha dezenove verso do Livro-Protocolo-Registro de Sociedades Anonymas”, acompanhada dos Estatutos, da lista nominativa dos acionistas com o número de ações de cada um, do “prospecto para encorporação do Banco, acta da sessão de assembléia geral em que foi installada a sociedade e nomeada a respectiva Directoria, e a certidão da Mesa de Fundos Federaes desta cidade do deposito da quantia de trezentos contos de reis (300.000$000).” Foi um orgulho para Pelotas! Para o estado! Para o país!Daí para a frente, foi um êxito só! Como diria Guerra Junqueiro, só manhãs de belas alvoradas, esplêndidas, nascidas a toques de clarim e a rufos de tambor, com lugar certo na História épico-econômica do grande Rio Grande! E, tanto, que, já no dia 8 de junho do mesmo ano, suas atividades mereciam nova notícia no Diário: “Este importante estabelecimento de credito, há tão pouco tempo fundado com capitais de Pelotas, desde 1º do corrente iniciou as operações de sua carteira cambial, sacando sobre todas as praças do estrangeiro. Sabemos que o banco já fez nesse sentido avultadas transações. O Pelotense, estabelecimento nacional, criando a carteira cambial, vem denunciar o valor e conceito de que já goza, a sua progressiva marcha ascendente em tão curto lapso de tempo, como ainda à direção inteligente que lhe está sendo imprimida.” A direção, sem dúvida, inteligente, podia ser vista, até há bem pouco tempo, na foto oficial dos fundadores, o Grupo dos Cinco Alberto Rosa, Plotino Duarte, Eduardo Sequeira, o Barão de Arroio Grande e Joaquim Assumpção no site, infelizmente já deletado, http://www.terra.com.br/cidades/pel/historia/banco_pessoal.html ... E, apenas quatro anos depois, a 1º de outubro de 1910, o capital inicial de 3.000 contos de réis passava a 5.000 e, três anos mais tarde, em outubro de 1913, dobrava para 10.000 contos de réis. O primeiro dividendo rendeu 2% ao ano, o segundo, 5% e, em 1922, o capital era de 30.000.000$000. No dia 5 de dezembro de 1916, a exatos dez anos e dez meses de sua instalação, o Banco inaugurava sua sede própria nesse prédio monumental da Floriano com Andrade Neves, assinado pelos arquitetos Perez, Monteiro&Cia. e que, agora, é do Banrisul. Aliás, voltando ao depoimento abalizado do doutor Candiota, no artigo da ZH, o Banrisul, que passou a administrar o espólio “incomensurável” do Pelotense, após o colapso deste, em 31, sem jamais ter prestado contas do mesmo o que leva muita gente boa a acreditar na tese de que o patrimônio todo foi, pura e simplesmente, esbulhado... “anoiteceu na sobreloja da Secretaria da Fazenda e amanheceu implantado em 45 agências do Pelotense, dentro e fora do estado”, além de feliz proprietário de uma boa parte do oeste do Paraná e de mais metade da área do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro... E não há qualquer mania persecutória nisso que chamo de Teoria da Conspiração contra o Pelotense. Que houve uma trama, uma conspiração de proporções gigantescas, lá isso houve. Se nacional ou regional, não se sabe. Mas, que houve, houve. E assim é que, a 5 de janeiro de 1931, faltando exatos cinco anos e um mês para que se completassem os 30 anos de duração do mesmo, previstos nos estatutos de fundação, esse fabuloso Banco dos pampas, criado para atender aos interesses de estancieiros e charqueadores, viu-se forçado, melancolicamente, a pedir sua liquidação... As causas? Já não importam... Importa, isto sim, reparar a injustiça feita contra os homens que souberam sonhar e construir, do nada, um império, para caírem, depois, empobrecidos, roubados e humilhados, sem qualquer outra razão que não a ganância alheia, no quase esquecimento geral. Importa, também, saber superar o trauma inevitável de nós todos, os pelotenses, que tenho, cá para mim, outra teoria e que é a de que ele perdura até hoje... Mas, cá para mim, também, tenho a certeza de que não havia como ser de outra forma. A máquina insensível e até inescrupulosa do século XX venceu os ideais de sensibilidade do XIX. Resta a serena certeza de que o Banco Pelotense foi, até o fim, solidário com os estancieiros e charqueadores, justo em um de seus piores momentos. Porque, justo nesse pior momento de crise da pecuária gaúcha e de crise econômica generalizada, a que se somaria uma gigantesca tramóia política, que não dispensou nem sequer o êxodo conjunto de todos os principais gerentes do Banco, o Pelotense resistiu exemplarmente o quanto pôde. E o que fazer, agora? Agora que, como na música, a festa acabou e a luz apagou?! Na minha opinião? Para começar, tirar a história do Banco de baixo do tapete, para onde nós todos a varremos e espalhá-la aos quatro ventos. Não temos nada para esconder: não houve qualquer inépcia! Gente, nós fomos vítimas! E, temos direito a uma reparação. Uma reparação nossa para conosco mesmos, pelo que foi e pelo que sempre será o nosso para sempre Banco Pelotense. Hoje é 5 de fevereiro de 2006, dia do Centenário do Banco Pelotense. Que festa de arromba não teríamos, se a história tivesse sido outra, há 75 anos e um mês, não?! A julgar pelos relatos das comemorações dos 20 anos, em 1926 e pelo Álbum Commemorativo desse aniversário, com título em letras art déco e textos em francês, inglês, italiano, alemão e português, é claro, sobre os “edifícios próprios do Banco Pelotense”, então com 74 succursaes no país, de que tenho, apenas, um xerox em preto e branco, ia durar, no mínimo, um mês! Pois, que tal fazermos a festa durar por muito mais do que um mês?! Só depende de se querer! Só depende de nós. E, o Banco, bem, o Banco merece isso e muito mais!
Mônica Beatriz Corrêa Meyer RussomanoArquiteta - Professora e coordenadora do curso de Arquitetura da Ulbra
»Matéria: Diário Popular - 06/02/2006

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