08 de Março

fevereiro 25, 2006

Carta Renúncia do prefeito de Pelotas Bernardo de Souza

Carta do Prefeito Bernardo de Souza entregue ao Legislativo
De Porto Alegre para Pelotas, em 23 de fevereiro de 2006.
Excelentíssimo Senhor Presidente
Ainda com o coração confrangido, dirijo-me mais uma vez a essa Egrégia Câmara de Vereadores para dizer que, por orientação médica, a partir de hoje (24/fevereiro/2006) estou me afastando, definitivamente, da vida pública e da Prefeitura de Pelotas.Este ato decorre do diagnóstico de minha doença, ainda impreciso na sua especificidade, mas definitivo em seu gênero - Síndrome Parkinson-plus, conforme atestado médico em anexo. A realidade adversa, identificada por uma conferência médica em Porto Alegre e confirmada por um dos mais renomados neurologistas do mundo, exige-me esta decisão radical e sofrida: afastar-me definitivamente da vida pública e do cargo de Prefeito.Todos os recursos ao meu alcance foram esgotados na tentativa de evitar este momento, já que com energia, determinação e lucidez havia buscado a magistratura à qual hoje renuncio. Na procura do diagnóstico da doença compreendi que sofria de um mal de difícil identificação. Em 2005, os primeiros sinais do mal que me vitima foram diagnosticados como depressão (referida na correspondência encaminhada a essa Egrégia Câmara de Vereadores, quando foi solicitada licença para tratamento de saúde), e por meses fui tratado para combater o que não tinha. Depois, com a constituição de uma conferência médica (integrada pelos médicos Fernando Lokschin, clínico-geral, Fernando Kowacs, neurologista, Pedro Lima, psiquiatra, Flávio A esse, radiologista, Nilo Lopes, neuro-cirurgião), passou a se examinar a possibilidade de ocorrência de hidrocefalia de pressão normal, por excesso de líquor, o que pareceu se revelar uma boa hipótese, especialmente após a primeira retirada de material da medula, pois a alternativa terapêutica seria a instalação de uma válvula cerebral - razão pela qual foi incluído, na conferência médica, um médico neuro-cirurgião.A conferência médica foi acrescida do Dr. Frederico Kliemann, médico neurologista, profissional com larga experiência e reconhecida competência, que realizou dois eletro-encefalogramas, antes e após uma terceira retirada de líquor. Entretanto, duas retiradas de líquor, posteriores, revelaram que a hipótese não se confirmara. Finalmente, a conferência médica, integrada agora apenas pelos Drs. Kowacs, Kliemann e Lokschin, opinou por uma síndrome parkinsoniana, não caracterizada como o Mal de Parkinson habitual, denominada Paralisia Supranuclear Progressiva – PSP e sugeriu minha ida à Inglaterra. Lá, o Dr. Andrew Lees disse que se trata de doença neurológica progressiva da família da síndrome Parkinson-plus, porém solicitou mais e novos exames, alguns dos quais deverão ter seus resultados obtidos na Inglaterra, a fim de identificar com exatidão a moléstia específica. Mas os sintomas subsistem: sonolência, dificuldade para articular e expressar os pensamentos e sentimentos, tendência a quedas, dificuldades motoras e operacionais e aparente desinteresse pelas pessoas e pelos fatos. Seja qual for o diagnóstico final, sabe-se que a doença é progressiva. Assim é que, exatamente quando o SEBRAE me considera um dos 9 (nove) Prefeitos mais empreendedores do Estado, devo, por orientação médica, me afastar, definitivamente, da Prefeitura. E acato esta orientação médica em respeito aos mais de cem mil pelotenses que entenderam que, comigo e com o Fetter, Pelotas estaria “em boas mãos”. Jamais poderia imaginar este desfecho dramático para minha vida pública. No primeiro ano de exercício do cargo, construí as bases fundamentais para o desenvolvimento do Plano de Governo apresentado aos eleitores durante a campanha eleitoral, sem as quais seria impossível governar.Caberá ao Vice-Prefeito eleito Adolfo Antônio Fetter Jr. completar este mandato, desenvolvendo as políticas públicas avençadas com os eleitores no contrato eleitoral democrático resultante da eleição para Prefeito. Deixo a vida pública neste momento tangido por aquilo que Milan Kundera disse ser a insuportável fragilidade da existência. Embora a fragilidade física me obrigue a transferir a outrem o dever de resgatar todos os compromissos por mim assumidos, a solidez de minhas convicções democráticas, éticas, humanistas e igualitárias autoriza-me a afirmar que a maioria do povo de Pelotas soube decidir bem quando nos fez, a mim e ao Fetter, depositários de sua confiança. Infelizmente a vida não me está concedendo a oportunidade de desfrutar da alegria de, novamente, provar que é possível transformar a gestão pública em uma ferramenta de inclusão social e de desenvolvimento econômico. É, pois, amargando uma profunda tristeza e um sentimento de grande frustração que comunico aos representantes do povo de Pelotas a renúncia ao cargo de Prefeito. Agradeço a todos aqueles que me acompanharam e que acreditaram no que sempre acreditei: um fazer político a um só tempo honesto, competente e ético.Agradeço a colaboração desta Casa, pelas manifestações em favor dos projetos que para cá encaminhei, e reafirmo minha confiança nos processos democráticos como regentes da vida pública.
Finalmente, solicito que esta Egrégia Câmara de Vereadores receba esta renúncia das mãos de minha mulher, Hilda de Souza, e de meu filho, Bernardo José de Souza, e a considere adequada.
Bernardo de Souza Prefeito de Pelotas Excelentíssimo Senhor VEREADOR JOSÉ SIZENANDO M. D. Presidente da CÂMARA DE VEREADORES
Pelotas/RS
Data: 24/02/2006
Hora: 15:54
Redator: Bernardo de Souza
Fotógrafo: Gustavo Vara

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